we can get back to poetry
Sacar que o homem é uma fábrica de ficção é admitir o óbvio, mesmo tão disfarçado, recomendação desse jeito que escolhemos para viver. Escolha não tão óbvia.
A resposta, portanto, não está no sentido que isso tem; inversamente, o mundo, absurdo em tudo o que ele é, ou poderia ser, responde arregaçando as mangas, mostrando os braços; subindo a saia e revelando as canelas; deixando escapar um sorriso na solenidade de uma reunião familiar. Quer dizer: a performance ganha sentido na medida em que questiona os sentidos que cultivamos, diariamente, nas coisas brutas que, per se, não significam nada.
Já escolheu o que vai fazer quando crescer?
Demora para entender, porque o jogo dos sentidos depende de experiências prévias consentidas, forçosamente consensuais, que você pode simplesmente querer fingir ser, porque, no enredo da ficção maior - a vida -, só entendemos o mundo na base do faz de conta. Faz de conta que o dinheiro significa alguma coisa. Tenho um bolinho de dez notas, vou comprar seu Playmobil que custa menos notas.
Na vida real, o Playmobil era muito caro. Na vida real, vou ser Jean Cocteau.
No vídeo que abre Presentéritos, Cocteau se dirige ao ano 2000. Sentado numa escrivaninha, dirige à câmera as preocupações que tem com relação a nós, nosotros, aprendizes de robôs, ainda tristes e melancólicos Em dois mil e dezessete. As palavras de Cocteau são hoje o que imaginou serem ontem.
Em seguida, parafraseando o autor de Les enfants terribles, surjo em cena para iluminar o futuro do presente, escuro. Recorto jornais e revistas velhos, grampeando notícias que foram, nas cartas de baralho que anunciam o que ainda vai ser. será? Enquanto distribuo as cartas sobre o chão, colaboradores leem, voz alta, o texto que elas formam. poema simultâneo: passado, presente e futuro coincidem. tudo invenção.